Pelo seu corpo o homem está radicalmente em comunhão com a natureza. O homem não pode não estar em relação com os seres que o envolvem.

A natureza ou o mundo fazem parte do nosso ser humano e do nosso projeto de vida.
Nós somos um ser no mundo.


O ser humano e o mundo-natureza forçosamente estão em comunicação recíproca. A natureza constitui aquelas circunstâncias que integram o meu "eu" na expressão feliz de Ortega Y Gasset: "eu sou eu e as minhas circunstâncias".

Podemos dizer que a vocação do ser humano é humanizar a natureza e deixar-se «mundanizar» ou "naturalizar" pela natureza, não no sentido moral vulgar, mas no sentido cosmológico e psicológico.

Temos de tomar consciência do nosso diálogo "eu - mundo" não só na dimensão exterior e objetiva, de duas realidades que estão frente a frente em reciprocidade existencial, mas também na dimensão interior e subjetiva, dando-nos conta que é todo o nosso ser – corpo e alma – que entra em comunhão com a natureza, para dar e receber.

Entre o homem e a natureza pode e deve haver uma verdadeira harmonia de existência de vida. Para isso o homem não pode considerar a natureza só como um objeto, mais ou menos útil, mais ou menos necessário, mas tem de a aceitar como parte integrante do seu ser.

A natureza não está à frente de nós: vive conosco! Não é um instrumento ou objeto manejável, segundo o nosso capricho, mas uma dimensão essencial do nosso espaço vital.

O homem torna-se vil e grosseiro e perde a sua nobreza de homem quando usa e abusa dos seres da natureza. Parafraseando S. Paulo, que afirmava que o marido que não ama a sua esposa peca contra o seu próprio corpo, podemos dizer: o homem que não ama mas ofende a natureza peca contra o seu próprio corpo. E porque o corpo está indissoluvelmente unido à alma, peca também contra a própria alma. Ou seja: ofender a natureza – poluindo-a, esbanjando-a, destruindo-a, – é um pecado em sentido ético e teológico.

O homem não pode ser o rei despótico da criação, mas o irmão universal, o grande irmão, o irmão mais velho de todos os homens, animais, plantas e coisas.

A vida do homem sobre a terra tem sido difícil, ao longo da história e tem exigido muita luta para garantir a sobrevivência e o progresso da humanidade.

Esta luta é legítima e podemos e devemos socorrer-nos da técnica para vencer os obstáculos que a própria natureza nos oferece.

O mal está no exagero da ambição e da cobiça que levam os homens a criar, através da técnica, um mundo artificial, com grave prejuízo do mundo natural.

A técnica veio a criar uma outra natureza que embora materialmente ajude o homem no seu bem-estar, veio também separá-lo e desgarrá-lo da Irmã Mãe Natureza.

O seu afã insaciável de domínio e de gozo, o homem deixou de contemplar o mundo da natureza para se entregar quase só à tarefa materialista e desumana da fabricação e da produção consumista.

Com estes exageros da exploração desregrada da natureza, o homem quebrou a relação vital com a natureza e criou um desequilíbrio que lhe pode ser fatal.

A natureza, porque é o prolongamento do próprio homem não pode ser só campo de ocupação, mas também a CASA DE HABITAÇÃO.

Hoje assiste-se, em muitos lugares, ao assassínio da terra, ao que já se chama "terricídio". Quantos rios, mares, fontes, florestas, campos, cidades, alimentos e o próprio ar que respiramos estão a ser vítimas da sôfrega ambição do homem.

O Humanismo Franciscano deve voltar-se para a Ecologia, e em nome do próprio homem, ou seja, da dignidade da pessoa humana, deve defender e promover a integridade, a beleza e o encanto da nossa casa comum que é o mundo, onde todos queremos habitar em paz, alimentar-nos racionalmente e vestir com a elegância das linhas e das cores da Irmã Mãe Natureza.

Ao menos como os lírios do campo e as aves do céu!

Em síntese: o nosso relacionamento com a Natureza tem como princípio inspirador a fé num único Deus, que é a fonte de toda a criação e de toda a vida, donde procede o homem e a natureza. Não aceitamos o Dualismo do espírito e da matéria.

O nosso relacionamento com a Natureza inspira-se também na relação do Espírito de Deus que se manifesta na Criação e nos faz respeitar valores superiores aos que o Positivismo descobre, na sua investigação puramente experimental.

O nosso relacionamento com a Natureza, finalmente, inspira-se na Sabedoria Eterna do Divino Artista, donde procede toda a verdade, bondade e beleza das criaturas. Superamos todo o utilitarismo, pobre e redutor, da arvorada TECNOLOGIA em deusa do progresso e da felicidade humana.

O nosso relacionamento com a Natureza é de simpatia, de admiração, de comunhão celebrativa, de gratidão, sem domínio nem possessão, vendo, como num espelho, nos outros seres criados, mesmo irracionais, inanimados e insensíveis, o reflexo da sublime dignidade humana e da infinita Beleza de Deus.

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.