Como é vista hoje pela Igreja a questão dos dogmas?
Os dogmas não são verdades obscuras, mas verdades imensamente luminosas. Tais verdades, mais que serem explicadas, explicam questões profundas de nossa existência. Por exemplo, o dogma da Assunção mostra o destino último de nosso corpo, que é a glória. E já que se trata do corpo de uma mulher, corpo aviltado de tantos modos, mostra como Deus se “vinga” disso, exaltando o corpo da Virgem numa apoteose suprema.

Ademais, os dogmas são mistérios que se celebram na liturgia. É aí que se vê melhor seu conteúdo. Mostram o que Deus faz em seu amor por nós. Que os dogmas sejam algo que supera a inteligência humana não significa que sejam de per si incompreensíveis, mas que possuem tanta luz que ofuscam nossa pobre vista, só feita para as coisas deste mundo.

Porém, graças à fé, podemos refletir sobre eles e obter deles uma luz imensa para nossa vida.

É possível sustentar nos dias de hoje como verdade dogmas tão antigos?

Os dogmas não são verdades ou mistérios submetidos ao tempo, ainda que estejam no tempo. São como faróis que, situados na terra firme da eternidade, iluminam os barcos que vagam nos mares flutuantes deste mundo. Assim, que Maria seja Mãe de Deus é uma verdade eterna, que ilumina eternamente o mistério da maternidade humana e, mais ainda, da encarnação de Deus em nossa humanidade.

Os dogmas nunca mudam. O que pode mudar é a compreensão que podemos ter deles. Por exemplo, o dogma da Virgindade de Maria pode hoje ser ligado à ecologia, como fez João Paulo II, mostrando que ele nos desperta para a necessidade de respeitar a natureza, sem violá-la com nossas sujeiras e destruições. Eis aí como um dogma que parece tão pouco “moderno” mostra uma relevância para a problemática atual. Acrescentemos que a virgindade de Maria não é a condenação do sexo, mas apenas a condenação à sua relativização. Ele mostra que o sexo não dá salvação e sim o poder do Alto.

Quais os principais dogmas marianos?

Maternidade divina de Maria. É uma maravilha inaudita que uma mulher deste mundo tenha sido verdadeira mãe de Deus. Isso pela fato da encarnação. Sendo que Jesus é Deus, a mãe de Jesus só pode ser mãe de Deus.

Virgindade perpétua de Maria. É outra maravilha de Deus que a mãe de seu Filho tenha permanecido Virgem, seja quando o concebeu, seja quando lhe deu a luz, seja depois do parto. Isso naturalmente só é possível a Deus, como explicou o Anjo a Maria. A virgindade de Maria depõe em favor de Cristo: de sua origem e natureza. Afirma que esse homem nasceu não da potência do homem, mas do Espírito Santo e que, portanto, é um dom do Céu. Mostra também que nós nascemos para a graça não de nossos pais terrenos, mas da Igreja, que no batismo nos gera para Deus “por obra do Espírito Santo”.

Imaculada Conceição. É uma terceira maravilha operada por Deus em Maria o fato de Ela ter sido concebida sem pecado original. Isso graças à redenção de seu Filho, que haveria de se realizar em breve. Isso mostra que a graça é uma raiz mais profunda que o pecado. Maria é a Nova Eva que não deu ouvidos à voz da Serpente.

Assunção de Maria na glória. É outra das “grandes coisas” que Deus fez em Maria, como Ela cantou no Magnificat. Esse dogma testemunha a potência da ressurreição de Cristo que já age no corpo de sua Mâe, elevando-a ao céu antes do fim dos tempos. É uma garantia segura do destino de nosso ser inteiro, alma e corpo: a exaltação na glória e no amor eternos.

Os dois primeiros dogmas estão claramente atestados nos evangelhos, enquanto que os dois últimos só estão lá implicitamente, precisando-se da Tradição para explicitá-los.

Há alguma reflexão ou debate a respeito da definição de mais algum dogma?

Existe hoje em nível mundial um movimento para a declaração de um quinto dogma, o de Maria medianeira de todas as graças. Há mais de um século que existem votos nesse sentido. Que Maria seja Medianeira de todas as graças é uma verdade já vivida pela piedade dos fiéis e aprovada pelo Magistério da Igreja. O Vaticano II afirma isso. Porém, alguns querem que essa verdade seja declarada explicitamente, solenemente e formalmente, embora isso não seja o principal. O Magistério verá se e quando os tempos estão maduros para tal declaração.

Em seu próximo livro Os Dogmas Marianos, quais assuntos relevantes quer comunicar?

O livreto de minha autoria que sairá sobre os dogmas entende mostrar de forma clara e bem popular o que são os dogmas marianos. Traz suas bases bíblicas e também as belíssimas declarações dos grandes Doutores da Igreja a respeito. Mostra também que os dogmas são verdades, mistérios e maravilhas que iluminam nossa existência e nos ajudam a viver de modo mais cristão e, por isso, de modo mais belo e encantado.

Uma mensagem final ao nosso leitor...

“Não se pode ser cristão sem ser mariano”, disse Paulo VI. Maria foi o último presente que Jesus deixou ao mundo antes de morrer, quando disse a João: “Eis aí tua mãe!”. Assim, quem “leva Maria para sua casa”, como fez João, terá em sua companhia a mulher mais maravilhosa do mundo. Aprenderá com Ela quem é Jesus e seus segredos mais profundos e terá tudo o que a mãe mais extremosa faz por seu filho mais querido. E, com tal encantadora presença, não poderá não ser feliz! Amém. Aleluia!


por Frei Clodovis Boff

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